domingo, 21 de julho de 2013

Colégio Meta

A matéria sobre o prédio do antigo Colégio Meta foi uma pauta criada por mim. A ideia não era falar da escola em si - que em setembro completará 35 anos -, mas do abandono do prédio que acolheu tantas crianças e jovens por muitos anos. O colégio era situado no coração da área central de Rio Branco e hoje deixa um cenário obscuro quando se desce pela ponte coronel Sebastião Dantas.

Sempre quando passo pelo local me vem à mente algumas lembranças dos meus tempos de estudo. Imaginei que isso também pudesse ocorrer com muitas pessoas que trabalharam ou estudaram no local. Falei com o editor do site, Paulo Teixeira, e ele concordou. Fui à rua. 

Ouvi colegas (ex-alunos), pedi fotos recentes emprestadas do interior do estabelecimento à colega Maíra Martinello - que mesmo sem saber me incentivou a produzir um bom material.

Colhendo depoimentos de uns e outros descobri que a Dona Clarice – a senhora da banca de bombons ainda estava viva. Quando me falaram isso não acreditei, pois na década de 90, quando estudei naquele Meta, ela já era bastante idosa - e também já tinha ouvido falar que ela tinha falecido.

Quando descobri da sua presença ainda no mundo, não poderia deixar de entrevistá-la. Muitos alunos tinham medo dela, mas era respeitada por demais. Era difícil mostrar um sorriso, mas sempre estava lá pacientemente vendendo seus bombons de vidro – históricos!

Chegando ao Calafate, bairro onde ela mora, foi um pouco difícil achar a residência, mas segundo o dito popular ‘quem tem boca vai a Roma’, então eu fui. 

O lugar é bem humilde. O depoimento dela foi bem emocionante. O fotógrafo Clériston Amorim, que me acompanhou na reportagem, teve o mesmo meu pensamento “essa mulher rende uma matéria sozinha”. Mas o meu propósito não era esse - embora quando um jornalista vai à rua deve ter olhar duplo e sempre trazer mais do que uma matéria. Embora fosse nítida a sua necessidade de ajuda, ela não pediu. (veja abaixo)

Tentei usar a maior imparcialidade possível no material em geral e acho que consegui. Embora tenha vivido por muitos e muitos anos naquela escola, deixei meus sentimentos de lado e relatei verdadeiramente o que os entrevistados falaram. Os diretores estão de férias por isso não os entrevistei.

Muitos pensam que notícia é somente política e polícia. Rio Branco vive hoje um caos em relação aos grevistas. Pessoas desgastadas politicamente. Sempre é bom sair da rotina e relatar algo novo. A matéria rendeu quase mil recomendações e recebi muitos elogios de ex-alunos, colegas de profissão e de internautas. Sei que faltaram algumas coisas para ficar melhor, mas gostei do produto.

Dona Clarice - Não quis expor a situação dela na matéria para muitos leitores não ligarem a situação que ela vive atualmente por ter saído do Colégio Meta. Então deixei para explicar no blog, me sinto mais a vontade.

Dona Clarice hoje tem 83 anos. Mora sozinha em uma pequena casa de madeira, sem quase nenhum móvel. Ela não teve filhos. Tem apenas um irmão legítimo que mora na colônia e a visita com frequência. Tinha um irmão de criação que morreu tem um ano e deixou três sobrinhos que moram no quintal ao lado da casa dela.

Ela disse ter saído do Colégio Meta quando foi diagnosticada com um câncer no intestino e precisou fazer tratamento em Porto Velho. Aposentou-se por tempo de trabalho, pois antes de trabalhar na escola – onde começou no serviço de limpeza -, trabalhou por 10 anos quando o espaço ainda era o Colégio dos Padres. Só de Meta ela trabalhou por 27 anos.

Segundo ela, o diretor do Meta, Itamar Zanin, disse que o espaço dela na unidade ainda está guardado – embora a escola funcione em outro endereço - e que, quando ela se sentisse a vontade, poderia voltar. 

Mas dona Clarice não tem mais saúde suficiente. Anda com dificuldade, fala e ouve muito bem. Diz sentir muita falta da barulheira dos alunos. Hoje, ela é tomada pelo silêncio e a calmaria de viver solitária dentro de uma casa. Ela diz que, vez ou outra, recebe visitas de ex-alunos e funcionários da escola.

Diz lembrar dos alunos mais danados (riu bastante quando falou) e reconhece o rosto de vários. De mim ela não lembrou (risos meus).

Acesse a matériaPrédio onde funcionou Colégio Meta está abandonado e vira depósito de lembranças
Fotos: Clériston Amorim

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